Posições Políticas

Resistir é já vencer

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A luta dos trabalhadores da Bordalo Pinheiro constitui um exemplo, a par de outros, de unidade e resistência à destruição do aparelho produtivo, à defesa dos postos de trabalho e da cultura portuguesa.

Resistir é já vencer
A luta dos trabalhadores da Bordalo Pinheiro constitui um exemplo, a par de outros, de unidade e resistência à destruição do aparelho produtivo, à defesa dos postos de trabalho e da cultura portuguesa.

Num gesto de boa vontade e com a ideia de que estavam a garantir o futuro da empresa, os trabalhadores empenharam-se na recuperação da empresa, trabalharam milhares de horas sem receber, produzindo peças inigualáveis que foram entretanto exportadas e vendidas na loja nas Caldas da Rainha.
A resposta que obtiveram da administração foi o não pagamento dos salários e a ameaça de redução de postos de trabalho e, numa espécie de canto da sereia, a «solicitação» aos trabalhadores para que recorressem à suspensão do contrato de trabalho.
Sendo certo que a procissão ainda vai no adro, a verdade é que até agora as sucessivas tentativas da administração foram derrotadas pela unidade e determinação dos cerca de 170 trabalhadores e isso não é uma questão de somenos importância porque foi antes de mais uma importante vitória dos trabalhadores. Embora o «cutelo» se mantenha em cima da cabeça dos trabalhadores, que continuam a viver num clima de amargura e incerteza, a verdade é que a administração foi obrigada a regularizar o pagamento dos salários, a manter o total dos trabalhadores e a fábrica a laborar.
Foi uma vitória da unidade na acção já que, apesar das sucessivas tentativas de divisão dos trabalhadores, essa unidade mantém-se intacta, comprovando assim que, unidos em torno da defesa da empresa e dos seus postos de trabalho, os trabalhadores têm mais força.
Contudo, as tentativas de divisão vão continuar porque a administração da empresa está apostada em destruir esta estrutura produtiva, com 124 anos de existência e cujo valor histórico e cultural é incontornável, promovendo e ganhando com a especulação imobiliária. Mas ela sabe que os trabalhadores unidos são um obstáculo à concretização dos seus intentos.
Na deslocação/manifestação em Lisboa e no encontro que a Comissão nomeada pelos trabalhadores e o sindicato das Indústrias de Cerâmica, Cimentos, Construção, Madeiras, Mármores e Similares da Região Centro tiveram com o ministro da Economia, este, reconhecendo o valor histórico e projecção internacional da marca Bordalo Pinheiro e da sua produção, prometeu – não especificando, como é o seu hábito – soluções que até agora não apareceram.

Aparelho produtivo votado ao desprezo

Como já nos habituou, este Governo, sempre muito preocupado com os trabalhadores e a situação das micro, pequenas e médias empresas, lava as mãos como Pilatos quando se trata de encontrar e viabilizar a partir dos meios de que dispõe soluções que permitam garantir os postos de trabalho e a produção nacional.
Ao nível da empresa, a administração, numa espécie de «jogo do rato e do gato», continua a não buscar encomendas nem a tentar encontrar novos mercados e clientes, ao mesmo tempo que vai ameaçando e procurando dividir os trabalhadores.
Importa referir que este cenário da Bordalo Pinheiro, que atravessa todo o sector cerâmico e se alarga a tantos outros, não resulta só da actual crise internacional do capitalismo é, sim, parte de uma opção pelos interesses de classe dos sucessivos governos de direita, que votam completamente ao desprezo e ao abandono o aparelho produtivo, designadamente os sectores tradicionais, cujo potencial humano e saber adquirido é único e internacionalmente reconhecido, como é o caso da cerâmica artística produzida na Bordalo Pinheiro.
Importa ainda salientar que o PCP, além de estar solidário com a luta dos trabalhadores, como ficou patente na Bordalo Pinheiro entre outras empresas, reclama desde há muito políticas específicas para o sector por parte do Governo, entre elas a redução dos custos energéticos à indústria, promovendo ou apoiando em simultâneo a criação de condições paritárias; o desenvolvimento de uma política a partir da banca pública de redução das taxas de juro às actividades industriais; apoio e promoção de cooperação empresarial, nos domínios técnicos, da inovação e da promoção comercial; defesa e valorização da indústria, assegurando uma discriminação positiva das micro, pequenas e médias empresas na distribuição de fundos nacionais e comunitários, exercendo o respectivo controlo na sua aplicação; a valorização do trabalho e dos trabalhadores, aproveitando a experiência, conhecimento e arte adquirida ao longo de muitas gerações de trabalhadores cerâmicos, que têm prestigiado o País no plano internacional.
Agora é preciso prosseguir a luta com determinação e confiança, participando na grande manifestação de 13 de Março convocada pela CGTP-IN, em Lisboa, onde os trabalhadores, todos juntos e unidos, demonstrarão ao Governo e aos senhores do capital que é urgente uma mudança de política e que para isso lutarão com todas as suas forças.

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